domingo, 15 de agosto de 2010

Método de diagnóstico para tromboembolia

Uma doença pode levar a outra, e não há pessismo nessa afirmação. A partir do terceiro dia em o que o paciente fica acamado, os riscos de trombose - entupimento das veias por coágulos de sangue - e embolia pulmonar já são considerados altos. Mas é possível preveni-la se o paciente for submetido a uma série de perguntas e métodos preventivos.

Atualmente, para avaliar o risco de a pessoa ter ou não trombose, é aplicado um questionário com 60 perguntas, chamado de método Caprini. Mas o médico hematologista e pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marcos Bastos desenvolveu um modelo que reduz de 60 para oito as variáveis que classificam o risco de ter trombose e embolia.

Bastos analisou os dados de 21.158 pacientes do Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio de Janeiro. Os dados foram recolhidos pelo programa de prevenção ao tromboembolismo do próprio hospital entre 1999 e 2001. Com os perfis dos pacientes de 1995 a 2001 avaliados em 2006 a 2010, Bastos comparou os resultados encontrados pelo método já utilizado (Caprini) com sua proposta.

"Conseguimos reduzir de três ou quatro categorias de risco, para duas: ou a pessoa tem risco de desenvolver tromboembolia ou não tem. Isso torna o processo mais simples para a equipe médica", afirma o médico.

A orientadora da pesquisa de doutorado, Suely Rezende, explica que o resultado do trabalho não dá origem a um novo procedimento de diagnóstico. "Ele simplifica muito o trabaho do medico e da enfermeira, ao invés de fazer 60 perguntas faz oito".

Contudo, o modelo foi feito a partir de uma retrospectiva. Agora é preciso testá-lo de forma prospectiva, com pacientes que estão dando entrada nos hospitais. É um método que pode ser muito útil, mas tem que ser validado em pelo menos mais duas amostras", diz.

assintomática. A trombose, na grande maioria dos casos, não é letal, e só se torna grave quando partes do coágulo formado da veia migram para o pulmão, causando a embolia.

Estatísticas internacionais comprovam que a trombose venosa profunda é responsável pela morte de pelo menos um milhão de pessoas, todos os anos, no mundo. Estima-se que, a cada ano, uma em cada mil pessoas desenvolva essa forma de trombose ou suas consequências.
"É uma doença de difícil diagnóstico. Às vezes o paciente queixa-se de dor na perna ou falta de ar e os médicos não suspeitam de trombose", explica a hematologista Suely Rezende.

Segundo José Ricardo Pécora, membro do Instituto de Ortopedia e Trauma do Hospital das Clínicas de São Paulo, das 70 mil cirurgias realizadas no país anualmente, quase 60% dos pacientes estão sob o risco de desenvolver o troboembolismo venoso após a alta médica, fato que poderia ser evitado com o uso correto do anticoagulante. Segundo ele, 80% dos casos de trombose são assintomáticos.



Cuidados
Prevenção ainda é falha
Se hoje a infecção hospitalar está controlada no país, é graças às comissões formadas especificamente para esse fim. Para a professora Suely Rezende, o país deveria adotar algo semelhante para a prevenção do tromboembolismo.

“Estamos muito atrasados na prevenção do tromboembolismo. É um problema tão sério quanto a infecção hospitalar e uma doença que o hospital potencializa, assim como a infecção”, avalia Rezende.

A doutora em hematologia e professora-adjunta da UFMG conta que, como é uma doença “completamente prevenível”, nos Estados Unidos o homecare não cobre os custos de tratamento do trombolembolismo desenvolvido apos internação hospitalar.

“Deveríamos fazer com que o tromboembolismo estivesse integrado ao protuário eletrônico. O que fizemos como pesquisa deveria estar sendo feito como assistência”, diz.